sábado, 18 de abril de 2020

Ser DE Candomblé e ser DO Candomblé


Há diferenças que vão além das distrações da escrita.

Minha Gaiaku é minha tia. A conheço a vida toda. Quando eu nasci ela já estava na família. Engraçado. Sempre tive mais afinidade com ela que com meu tio, com quem tenho laços de sangue. “Acompanhei” a entrada dela na Umbanda. Passei minha adolescência com a orientação da Vovó Maria do Rosário. Que saudade! Também estava próximo quando ela entrou para o Candomblé. Minha Gaiaku passou por muita coisa, mas nunca abandonou sua fé. Bonito e admirável de ver. E o tempo passou até que ela abriu a própria casa.

Fui até o barracão da Minha Gaiaku pela primeira vez em 2011 quando passei mal e ninguém descobria o que eu tinha. Lá encontrei o “remédio” que precisava, mas não queria tomar de fato. Muitas coisas e pessoas, além de mim mesma, me impediam de tomar a dose certa. E, em 2014, perdi os sentidos de novo e entrei para fazer minha iniciação. Não fui capaz! Meu mundo exterior de novo gritava por mim e eu tinha medo (muito medo) de perder o que na verdade eu não tinha (porque se tivesse de fato, não teria perdido). Mas em momento algum me foi feita proposta. Se tivesse que escolher mil vezes, escolheria mil e uma...

De perto ou de longe, sempre falei que nesta vida se eu fizesse minha iniciação no Candomblé seria com a minha Gaiaku. Ela não é uma pessoa fácil, mas é digna, honesta e em tudo que faz se entrega. Minha Gaiaku tem mais que conhecimento na religião. Ela tem fé e amor pelo Sagrado e isso a torna especial. É admirável sua entrega total. Com ela sempre tive a absoluta certeza que não seria feito apenas o certo, mas o melhor. E assim foi. Minha Gaiaku é DO Candomblé.

            Eu sou do mesmo Vodum que minha Gaiaku, mas ela sabe que apesar de me esforçar para fazer  meu melhor e ser a melhor Vodunsi que eu conseguir, eu sou DE Candomblé. Eu não sei ser de outro jeito. Por mais que eu me esforce não sou capaz. Estou longe de ser a filha dos sonhos. Se muito, conseguirei ser uma boa filha e uma boa Vosundi, mas não DO Candomblé. E essa linguística faz muita diferença. Que minha Gaiaku – que tem o meu profundo respeito, admiração e amor – me perdoe por isso.
Continua...

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