Chegou o dia da festa (16 de fevereiro de 2020) para quem estava do lado
de fora, porque a verdadeira festa, a do Vodum, já havia acontecido dentro do
Peji. E era a hora de sair. Do pouco que vi e pude sentir, dentro de mim havia
um misto imenso de sentimentos e o mais profundo desejo que tudo acontecesse da
melhor forma. Havia o medo também, mas um medo diferente. O meu medo era que lá
fora, na assistência da festa não estivessem as pessoas que eu amo e uma de
fato faltou. Eu não os veria, mas saberia que estiveram lá.
E de palha me cubri. De palha eu fui coberta. Essa é a minha armadura há
tempos, mas nunca como a partir daquele momento. Não uma armadura que me
permite o ataque, muito pelo contrário. As palhas pra mim são como o colo de
meu Pai, onde me sinto protegida e me faz ser melhor. Sob as palhas eu encontro
proteção, afago, amor e é isso que posso oferecer. Não me é mais permitido não
tentar ser melhor todos os dias, não me é mais permitido deixar de domar minhas
más tendências... só me é permitido ser melhor.
A palha é leve, mas traz um peso enorme sobre quem a carrega. É o peso
da responsabilidade de não mais aceitar o erro de nenhuma forma, de buscar a
melhoria interna, bem como do entorno. Um difícil exercício diário. Mas no dia
da minha saída a palha me trazia a leveza do dever cumprido. Era uma parte da
alegria de ter conseguido honrar meu esforço em me doar, bem como o esforço da
minha Gaiaku, do meu Mehuntó, da minha Deré, da Minha Dofonitinha e de todos
meus irmãos de fé que participaram ativamente da minha iniciação.
E na festa tudo correu bem. Minha Dofonitinha e eu éramos alegria pura
e, é claro, alívio também. Não vimos nossa família, mas soubemos que eles
estavam lá. Pra mim faltou uma pessoa muito importe, mas que eu não esperava,
mas desejava muito que estivesse presente. E presente não por nada, mas por
tudo. Por tudo que fui e sou. E uma vez mais fechei meus olhos e mergulhei no
meu mundinho para buscar o entendimento que em várias circunstâncias me falta.
E de palha eu cubri para também ouvir a voz do meu atotô (silêncio).
Continua...
Chegou o dia esperado da iniciação. Gostando de acompanhar! bjs, chica
ResponderExcluirOh, minha querida, obrigada pelo carinho. Foi uma jornada e tanto!
ExcluirBeijos confinados,
Audrey