Já falei em uma postagem que sou lerda para algumas coisas, mas quando
se trata de sentimentos, sou uma perfeita idiota. Na maioria das vezes,
interpreto errado e o preço que pago é alto... quando considerei de fato fazer
minha iniciação no Candomblé considerei algumas coisas e superestimei outras.
E, é claro, que o resultado não foi dos melhores. Eu não sou boa de entrelinhas,
não sei ler este tipo de diálogo.
Não sou uma pessoa carinhosa, mas sou pau pra toda obra e se eu amo
alguém, não meço esforços. Não sei se isso é defeito ou qualidade. O amor pra
mim é sagrado e eu amo por inteiro, com plenitude, desarmada e com a alma nua e
sempre espero o melhor do amor, até porque faço o melhor que posso, com o que
tenho e com o que sei. Pode até não ser o melhor para os outros, mas com a
absoluta certeza, é o meu melhor, meu mais puro, meu mais profundo.
E eu perdi. Supervalorizei o amor. E perdi o que tanto prezava. Perdi
sem opção de escolha, porque se tivesse que escolher o meu amor mil vezes, eu
escolheria mil e uma. E eu perdi sem sequer ouvir uma única palavra. Quando eu
vi, já não existia. E tudo que eu considerava tão sagrado, tão meu, já não era
mais.
Em cada escolha do meu amor, em mim ele encontrou total apoio. E foram
muitas as escolhas. Conheci em uma profissão e, em 15 anos de convívio, foram
algumas outras. E, em todas as escolhas, o meu apoio. De lugar foram outras
tantas escolhas e lá estava eu. Viajei alguns pares de quilômetros de carro, de
ônibus, de avião. Porque pra mim o amor passa pelo apoio, pela cumplicidade.
Sem contar que mudaram as profissões, os lugares, mas a pessoa é a mesma e com
o amor ao lado se caminha mais firme. E, caso algo não saia como esperado, se
tem o melhor lugar para pousar: nos braços de quem nos ama.
Na nudez da alma eu tinha o maior orgulho de dizer que o amor é
maravilhoso e que eu o conhecia. Orgulho sem soberba. Do meu amor sempre falei
com amor, alegria. Além de amor, sempre falei que era meu melhor amigo. Desde
quando o conheci, quando acontecia algo bom, ele era a primeira pessoa que eu
pensava e contava. E, se acontecia algo ruim, também era nele que pensava e pra
ele que contava. E, ainda hoje, ele é a primeira pessoa em quem penso, mas já
não tenho como contar.
E quando escolhi fazer minha iniciação jamais pensei que seria assim.
Nem nos meus piores pesadelos achei que isso me aconteceria. Eu de verdade
acreditei que meu amor e eu ficaríamos juntos por toda vida e que
envelheceríamos juntos em algum lugar tranqüilo do interior. Eu realmente
acreditei nisso e nunca imaginei que seria de outra forma. Em anos eu apoiei
tantas escolhas – e algumas foram desafiadoras – e eu só fiz uma escolha.
É tão estranho. Eu sou um ser humano como qualquer outro, com defeitos e
qualidades; sou uma pessoa séria, digna, correta, honesta; sou uma profissional
que trabalha muito para colocar na mesa o pão nosso de cada dia; sou uma mãe
que faz o possível para e pelos filhos; não sou boa dona de casa, mas cuido da
minha casa com zelo e carinho; sou uma mulher bacana; não faço e não desejo mal
a ninguém. Eu creio em Deus e nas forças da Natureza, amo Nossa Senhora. Não
sou do mal, não apoio o mal, não aprendi a virar a cabeça como a menininha do
filme “O Exorcista”, tampouco aprendi a subir paredes de costas.
O que eu aprendi na minha iniciação no Candomblé? Aprendi a silenciar,
domar mais meus impulsos, ser menos explosiva, olhar pra dentro de mim,
respirar fundo quando as cosias saem do “controle”. E outras coisas ficaram
ainda mais fortes dentro de mim. Deus está em todas as coisas e isso inclui
dentro de cada um de nós; o amor é o mais forte e o mais nobre dos sentimentos;
podemos nos compadecer da dor do outro, mas jamais senti-la, então a dor do
outro tem que ser respeitada; que o diálogo é de suma importância para todo
tipo de relação; tudo que te é de valor deve ser preservado com respeito,
carinho e amor; que não podemos voltar atrás, mas podemos recomeçar, retomar a
qualquer tempo; que o coração do outro é terra sagrada, então só se pisa com
muito amor.
Eu sou a Audrey. Eu sou ser humano, filha, mãe, profissional, dona de
casa, mulher...
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