Só depois de passar por toda as funções soube o verdadeiro significado
desta frase.
Ao final das funções, véspera do Candomblé que marcaria minha saída para
o mundo após longos dias, eu descobri o que significava ser “raspada, pintada e
catulada”. E o quanto isso traz de leveza para algumas muitas coisas e pesa na
responsabilidade. Responsabilidade com o meu Vodum, com a Gaiaku, com o meu
Mehuntó, Minha Dofonitinha, meus irmãos e com as pessoas de uma maneira geral.
A partir daí minha conduta será avaliada não mais por ser uma pessoa, mas pela
religião que pertenço.
Havia aprendido muitas coisas de Candomblé, mas havia aprendido muito
mais de mim. Aprendi a ter paciência, tolerância e perceber melhor o momento de
falar e calar, conhecer meus limites, ter mais cuidado no responder e muito
zelo, cuidado e carinho no falar. Dentro do Roncó descobri que preciso do
cuidado e do cuidar, que eu posso ser sutil e gentil mesmo quando o assunto não
é o mais fácil a ser discorrido, e que devo falar menos e ouvir mais. A onça
que já não era mais tão feroz, se tornou dócil.
Deixei de ser Abiã para me tornar Yawò, mas o que mudou foi dentro. Não
sabia, mas mudaria ainda muito mais quando eu voltasse para o meu mundo. E
dentro de mim havia uma vontade imensa de doar todo o amor que estava guardado
em mim, de reunir elos, resgatar pessoas, auxiliar no que me fosse possível, me
doar, tratar, levar ao menos ao meu mundo todo o amor do meu Vodum e silenciar
um tanto de vezes. E também me cuidar, me ver, me enxergar, me tratar.
E então eu fui raspada, pintada e catulada e isso significa para mim que
eu preciso ser uma pessoa melhor para mim e para o outro, que tenho que fazer
meu melhor e ser melhor todos os dias. Esse é para mim o verdadeiro
significado.
Continua...
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