domingo, 4 de abril de 2010

Meio a meio

“A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace”.

HUGO, Victor
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Sou uma pessoa impulsiva. Ajo muitas das vezes sem pensar. Isso me leva a acertos incríveis e a erros desastrosos. Que me torna uma pessoa meio a meio. Nem sei se erro mais ou acerto mais. Prefiro acreditar em 50% para cada. Essa característica reflete outra: sou covarde! É melhor acreditar que meus impulsos que acertam são pura intuição feminina – daquela, que nunca falha – e os que erram são infantilidade – tem uma parte em mim que teima em não crescer – a refletir antes de agir.

Fui precoce em tantas coisas e em outras deixei a desejar. Deve ser normal. Pelo menos para uma pessoa meio a meio como eu. Minha imaturidade causou grandes decepções, principalmente amorosas. Antes de me reconciliar com o processo da vida, fiquei um pouco introspectiva e até que gostei bastante do que vi dentro de mim. Passei tanto tempo dentro de mim que pude guardar algumas coisas e descartar outras. Uma pequena limpeza interna.

Enfim, me libertei de novo para viver intensamente. Fiquei mais leve. Flutuei. Me redescobri como mulher, mãe e profissional, não necessariamente nessa ordem. A mãe e a profissional não tiraram férias. Seria inconcebível. Preciso sustentar a mim e aos meus filhos e eles, graças a Deus, são para sempre – essa é uma das certezas que nunca estarei só ou comigo mesma. Já a mulher, essa precisou de tempo para se recuperar e reaprender, reerguer, renascer, reaflorar.

Mesmo reencontrando a mulher que estava dentro de mim e redescobrindo o amor, o mistério continuou intacto. Vi no amor uma grande perfeição e uma grande delicadeza. E novamente a característica impulsiva aflorou. Cai. Me machuquei. Perdi. E não entendi, mas não questionei. Afinal, sou meio a meio. Seria essa a parte impulsiva advinda da infantilidade. É a ação da minha parte que não cresceu, mas não perguntou “por quê?”.

Hoje vejo o enorme vazio com uma clareza incrível. Fiquei tão maior que eu mesma que não consigo me alcançar. Hoje quero mais, quero mais uma vida tranquila. Sem pressa, mas com impulso de uma alavanca. Hoje vejo o tempo como meu aliado e não como oponente. Ainda sou o que chamam de contraditória.

O mistério permanece intacto, mas descobri que como eu o amor precisa de asas, e de asas longas pra voar, alçar voos cada vez maiores e fazer pousos seguros e serenos. Hoje sou o porto seguro de um amor livre, que tem asas para voar. Hoje eu voo alto e pouso segura e serena... impulsiva, meio a meio.