Os primeiros sete dias de reclusão são de resistência.
Entrei no Barracão na manhã do dia 25 de janeiro de 2020 ao lado de quem
mais tarde se tornaria mais que minha amiga, minha irmã. A Minha Dofonitinha. E
entramos com a cara e o medo, mas também com a confiança porque tínhamos e
temos a melhor Gaiaku e o melhor Mehuntó que uma Yawò pode ter.
O primeiro dia de reclusão passou, de certa forma, rápido. Mas o
segundo... foi eterno. Um domingo. Um looongo domingo. Não sabíamos ainda, mas
naquele dia descobrimos que existem três dias num domingo. As 24 horas do
domingo parecem 72 horas. Sozinhas e sem contato com o mundo externo, começava
ali nossa primeira jornada de fato. E para não nos perdermos no dias, começamos
a fazer marcações. Já começamos com o segundo dia. Dia este que ficaria
marcado.
Silêncio na maior parte do tempo. As conversas vinham de tempos em
tempos em forma de palavras encorajadoras. Ora eu, ora minha irmã. E nestes
sete dias aprendemos de forma dura e incisiva que ali seríamos apenas nós com
nós mesmas e, vez em quando, uma com a outra. Sem contato algum com o mundo
externo, sem qualquer luxo ou vaidade. Naquele momento ainda existia o ego. Ah,
o ego. Como ele também é resistente. E, às vezes, parece que vai nos atropelar.
Deixei tudo que me cerca para me encontrar. Nunca houve uma ruptura tão
grande na minha vida antes. Família, Amor, amigos, trabalho... tudo.
Absolutamente tudo ficou do lado de fora e isso tornou ainda mais inevitável a percepção
do que valia ou não manter no corpo, no coração e na alma. Só existia o ser
humano Audrey e o que ela queria dali em diante. Como senti saudade. E como a
saudade é cruel e machuca. Das cosias eu não senti falta, mas de algumas
pessoas a dor da saudade era avassaladora.
Foram muitas as descobertas internas neste período, embora me
perguntasse constantemente “o quê eu estou fazendo aqui?”. Essa era a minha
resistência comigo mesma. Eu sabia que era necessário este mergulho profundo no
meu interior, mas no raso já me era difícil. Eu não gostava do que via e em
pequenos afundamentos já me faltava o ar e o que via fazia meu corpo doer e
minha alma latejar. É muito difícil deixar o mundo para ouvir as próprias
batidas do coração, principalmente quando o pulsar é triste.
Na minha alma tinham muitos lugares vazios, mas estavam sujos de
tristeza, mágoa, dor, abandono... mas também existiam lugares limpos e
perfumados com muito amor, alegria, bem-estar, paz... E era chegado o final dos
primeiros sete dias. Era chegada a hora de começar a limpeza dos lugares vazios
e sujos e deixar ainda mais limpo e perfumados os demais. Era a continuidade da
jornada proposta...
Continua...
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Sejam bem-vindos!!! O caminho é pequeno, mas o coração é grande.