segunda-feira, 13 de abril de 2020

Me despi pela segunda vez...


Me tornei Yawò este ano. Sim eu sou Candomblecista.

Me despi das vestes do mundo, me despi das vaidades, me despi de mim e me entreguei de alma nua – até então só havia despido minha alma uma única vez e por amor. E não foi fácil. Estar com a alma e o coração nus é mais difícil que se possa imaginar e para se entregar é preciso coragem.

Eu não escolhi o Candomblé. Foi o Candomblé que me escolheu e eu aceitei (com relutância) sua escolha. O som do atabaque faz o meu corpo arrepiar e quanto mais ele toca, mais se faz silêncio dentro de mim até que os sentidos adormecem e a paz ecoa. Silêncio. Passos lentos como o tempo e uma das forças mais sublimes da natureza toma conta de mim, meu corpo aquece com aquela sensação gostosa que só os raios do sol do início da manhã e do final de tarde são capazes. É a paz.

A paz é equilibrada. Ela aquece e traz frescor na medida da precisão. E muitas coisas passam a ter sentido, ainda que não se domine os próprios sentidos. Só um Vodunsi é capaz de entender outro Vodunsi e o que se sente quando o Vodum está entre nós. Mas para quem despe a alma, abre o coração e fecha os olhos os Voduns se mostram através da energia boa, sublime. É só se permitir.

No Candomblé fui em busca do meu equilíbrio. Fiz um mergulho no interior da minha alma para encontrar a minha essência. Fui me recolher, me encontrar, procurar saber aquilo que de fato me é essencial nesta ida, o que me é importante e o quanto o que eu encontraria poderia realizar de transformações na minha vida e na vida dos que estão ao meu redor para melhor. Essa é uma das funções de uma religião: nos tornar pessoas melhores para si e para o outro.

Foram dias longos e intensos e de muito aprendizado. Estar desnuda diante de si não é tarefa fácil. Exige muito esforço e coragem para se olhar desta forma, se avaliar, encontrar sua essência sem subterfúgios. São apenas você com você. Tanta coisa a rever, tanta coisa a mudar... um processo difícil e único onde você é o grande responsável. Nunca havia me visto com tanta clareza antes.

E então você decide se começa o processo de mudança, de transformação ou continua no caminho que percorria...

Continua...

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