Me tornei Yawò este ano. Sim eu sou Candomblecista.
Me despi das vestes do mundo, me despi das vaidades, me despi de mim e
me entreguei de alma nua – até então só havia despido minha alma uma única vez e por amor.
E não foi fácil. Estar com a alma e o coração nus é mais difícil que se possa
imaginar e para se entregar é preciso coragem.
Eu não escolhi o Candomblé. Foi o Candomblé que me escolheu e eu aceitei
(com relutância) sua escolha. O som do atabaque faz o meu corpo arrepiar e
quanto mais ele toca, mais se faz silêncio dentro de mim até que os sentidos
adormecem e a paz ecoa. Silêncio. Passos lentos como o tempo e uma das forças
mais sublimes da natureza toma conta de mim, meu corpo aquece com aquela
sensação gostosa que só os raios do sol do início da manhã e do final de tarde
são capazes. É a paz.
A paz é equilibrada. Ela aquece e traz frescor na medida da precisão. E
muitas coisas passam a ter sentido, ainda que não se domine os próprios
sentidos. Só um Vodunsi é capaz de entender outro Vodunsi e o que se sente
quando o Vodum está entre nós. Mas para quem despe a alma, abre o coração e
fecha os olhos os Voduns se mostram através da energia boa, sublime. É só se
permitir.
No Candomblé fui em busca do meu equilíbrio. Fiz um mergulho no interior
da minha alma para encontrar a minha essência. Fui me recolher, me encontrar,
procurar saber aquilo que de fato me é essencial nesta ida, o que me é
importante e o quanto o que eu encontraria poderia realizar de transformações
na minha vida e na vida dos que estão ao meu redor para melhor. Essa é uma das
funções de uma religião: nos tornar pessoas melhores para si e para o outro.
Foram dias longos e intensos e de muito aprendizado. Estar desnuda
diante de si não é tarefa fácil. Exige muito esforço e coragem para se olhar
desta forma, se avaliar, encontrar sua essência sem subterfúgios. São apenas
você com você. Tanta coisa a rever, tanta coisa a mudar... um processo difícil
e único onde você é o grande responsável. Nunca havia me visto com tanta
clareza antes.
E então você decide se começa o processo de mudança, de transformação ou
continua no caminho que percorria...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sejam bem-vindos!!! O caminho é pequeno, mas o coração é grande.