terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Um ano par que se tornou ímpar

O ano de 2020 ficará registrado, sem dúvida. Um ano onde distâncias se encurtaram por um lado e se ampliaram por outro. Quem me conhece sabe o quanto gosto de abraço, mas este ano foi de bem poucos. Um ano de desafios, introspecção, estudo e de muitos vazios... A Terra silenciou. A Terra silenciou, o modo de vida mudou – ao menos para alguns que compreenderam a importância de valorizar a vida humana – as despidas não aconteceram... perdi amigos e conhecidos, vi famílias inteiras dissipadas pela morte – a morte efetiva e a morte de um ente querido. Pior que filhos órfãos, foi sentir a dor de pais enterrando seus filhos, na maioria esmagadora das vezes, sem o amparo de familiares e amigos. As redes sociais se transformaram em obituários.

No Brasil, enquanto muitos faziam festas e viagens disseminando um vírus tão mortal, numa demonstração profunda de irresponsabilidade e desrespeito com o outro, dezenas de centenas de milhares de famílias sofriam com parentes internados sem notícia alguma, enterravam seus mortos em valas coletivas na companhia de Deus; governos desvalorizando as vidas humanas e superfaturando equipamentos hospitalares e remédios, discutindo se esse ou aquele remédio deveria ser utilizado... Caramba, se não tem contraindicação, vale tudo para salvar vidas. O que não vale é levar para o discurso político. Definitivamente o Brasil não é pra amador.

2020 está prestes a acabar, mas não levará consigo o vírus. Mas a esperança é que 2021 traga a cura, uma vacina eficaz capaz de impedir que uma doença tão letal avance. Com todos os percalços, dores, desafios, decepções... – posso afirmar sem medo de errar que até a data de hoje foi o ano mais desafiador da minha vida – tenho muito que agradecer a Deus, à Espiritualidade, ao Divino, ao Sagrado por estar viva e não ter enterrado nenhum familiar. Ao Universo a minha mais profunda gratidão. É bem verdade que 2021 chegará trazendo desafios enormes, afinal, já termino 2020 desempregada. Eita ano desafiador. 2020 é um ano par que se tornou ímpar. Que 2021 seja um ano melhor para todos!


terça-feira, 17 de novembro de 2020

Preciso ser muitas...

Já gritei em silêncio

Já chorei sorrindo

Já me apaixonei distante

Já me afastei ficando perto

Já recomecei com um fim

Já coloquei o fim no começo

Já fui caos sereno

Já fui paz incendiária

Já fui menina/mulher

Já fui mais homem que muitos

Já sonhei acordada

Já estive acordada em um pesadelo

Já fui fera dócil

Já fui bicho insensível

Já me inventei para continuar

Já me reinventei para parar

Já senti prazer no corpo, na alma

Já senti dor no coração, na alma

Na transformação diária achei o equilíbrio

Preciso ser muitas para continuar sendo UMA.

 

Acertei e errei muito nesta vida – sempre penso que mais errei que acertei – mas com a mais absoluta certeza fiz meu melhor com o que tinha e com o que sabia e espero que isso me valha. Aprendi com acertos e, ainda mais, com os erros. Mas nada, absolutamente nada havia me feito mergulhar tão fundo dentro de mim como este ano de 2020. Não foi apenas um acontecimento. Foram vários ao mesmo tempo. Nossa!


Minha vida deu uma reviravolta imensa. Foram muitas mudanças internas e externas. Sucumbi e vi diversas pessoas sucumbirem também. Aprendi sobre mim este ano mais que em toda a minha vida. Foram muitas as transformações e ainda vem mais mudança por aí. Confesso que estou com medo – bastante medo – mas de peito aberto, fronte erguida e pronta para receber o que o Universo tem a me oferecer. Não foi fácil (re)encontrar o equilíbrio e a saúde eu continuo na luta. Só eu sei o quanto precisei e preciso ser muitas para continuar sendo UMA.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Amar é um ato de coragem


Há cerca de um ano a minha vida passava por uma reviravolta enorme e eu não sabia. Eu perdia o homem que de fato amei – coisa que jamais pensei que ocorreria e muito menos da forma que foi. Ah, o ser humano. Durante alguns pares de anos vivi com o homem pelo qual eu nutria os mais profundos amor e admiração. Passamos por muitos desafios, mas também por momentos fantásticos – os melhores da minha vida e que, sem dúvida, ficarão eternizados. Ele foi o grande amor da minha vida. Ele É o grande amor da minha vida mesmo que estejamos trilhando caminhos diferentes.

Mas não se pode amar sozinho e eu amava sozinha. Só que eu não sabia e descobri de uma maneira muito triste. Não houve uma conversa. Descobri, através de uma rede social que eu não fazia mais parte da vida dele. Uma dor enorme me invadiu. Na mesma época enfrentava um tumor no útero – não parava de sangrar, meu filho estava me dando um trabalho enorme e eu ainda me preparava para fazer minha iniciação no espiritual. Tudo que mais queria era tê-lo ao meu lado – e como eu precisava dele.

Eu tentei – e não me envergonho disso – recuperar o meu amor, mas não fui capaz. E entrei para a minha iniciação espiritual com o coração muito machucado e sofrido. Apesar da dor devastadora que sentia, cumpri cada compromisso, cada função com dedicação e amor. Fiz meu melhor sem uma única reclamação. Foi um período muito difícil. Mergulhei no mais profundo de mim e vi muita dor, mais dor que eu podia suportar. Em pouquíssimo tempo perdi quase 15 quilos.

Passados quatro meses da minha iniciação, uma vez mais voltei a procurar o meu amor e, desta vez, me envergonho de tê-lo feito. Foi uma situação constrangedora na qual ouvi palavras duras que feriram ainda mais a minha alma. E, quando pensei que já não era mais possível sentir dor maior, eis que surge a vida e me surpreende. E, desta vez, não consegui suportar e desmoronei. Me senti como um animal abatido. Eu que tinha tanta alegria de viver acabei por sucumbir.

Tudo que me era tão sagrado, tão profundo, tão especial já não existia mais e eu me perguntava o porquê e não obtinha resposta. Por mais que eu tentasse entender, aceitar, engolir, sei lá, qualquer coisa... eu não conseguia. Me sentia culpada, incapaz, infeliz... eu era a visão da mais profunda tristeza. Me olhava no espelho e não me reconhecia. Perdi a conta das vezes que me olhei no espelho na tentativa de encontrar um resquício do que eu era. Então busquei no estudo e na terapia auxilio. Não era justo que o sentimento mais bonito e mais profundo que senti nesta vida me definhasse daquela forma.

E aos poucos, um dia de cada vez, fui me dando conta que eu não tinha culpa de absolutamente nada, que, na verdade, não havia culpados, que por mais que você ame uma pessoa ela não tem a mais remota obrigação de te amar de volta, ninguém é obrigada a corresponder às nossas expectativas ou agir da maneira que consideramos correta. Somos seres individuais que agimos com o outro de acordo com o nosso caráter e nossos princípios.

Um ano se passou. Sem dúvida alguma foi o ano mais difícil da minha vida, mas, também, com a mais absoluta certeza, foi um ano de grande aprendizado. Ser frágil não é sinônimo de fraqueza, muito pelo contrário. Demonstrar fragilidade é sinônimo de coragem e amar é um ato corajoso. Eu fui corajosa por amar e confiar com a alma total e completamente desnuda. Eu sou corajosa. Eu amo. O D* foi e é o grande amor da minha vida. Quando o conheci sabia que era AMOR e que eu o amaria por toda esta vida... o amor permanece, mas a dor não.

domingo, 11 de outubro de 2020

A superficialidade, o raso

Viver requer compromisso, mas, acima de tudo, comprometimento. Aí o bicho pega! Se comprometer de verdade pode ser mais difícil e exigir mais esforço que se pode supor. Por isso há quem inicie ciclos em cima de ciclos, numa pressa desenfreada em viver algo desesperadamente não por sede de vida, mas por carência, por medo de ficar só. E então só consegue viver a superficialidade dos inícios, o raso das relações como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo e acabam por se frustrar.

Tudo é tão bonito, tão mágico, tão fofo, tão tão... porque reque tudo, menos comprometimento. Trata-se do oba oba, apenas dos bons momentos a dois, da superficialidade dos encontros que em nada demonstram o que de fato é a vida real. São apenas sonhos e ilusões. Tão raso! Nada existe de profundo, de real... se quer conhece de fato com quem está. É o abstrato do que se quer e não se é capaz. A falsa felicidade, porque para fora tudo parece tão lindo, tão perfeito... para dentro o vazio, a tristeza de querer tornar real a própria mentira inventada – que por um tempo até acredita nela – e a consciência de que ainda não é isso, por mais esforço que se faça. Até porque felicidade não precisa de publicidade, porque esta só vende ilusão.

Como a vida real requer comprometimento, é necessário viver o dia a dia. É claro que existem os momentos mais sublimes em todas as relações, sejam elas profundas ou rasas. Mas para se tornar palpável, real, verdadeiro, é necessário entender e aceitar que há um entorno que fará parte da relação, haverá adversidades, enfermidades, dias bons e ruins, família, passado, dias de sol e chuva, convivência diária com qualidades, mas também com defeitos em tempo integral... sem subterfúgios, sejam eles quais forem. Se para ser bom precisa fugir da realidade ou criar realidades paralelas... opa! Sinal de alerta.

Tornar sonhos em realidade não é tão difícil. O difícil mesmo é pegar esta realidade e se comprometer verdadeiramente, sem fuga. De superficialidades e do raso é fácil sobreviver, mas é necessário ter a consciência que isso não é real. Porque a vida mesmo precisa ser real e, para ser real, ela requer amor e comprometimento, aceitar e unir ambas as realidades e transformá-las em uma única realidade a ser compartilhada a dois, três, quatro, cinco... e não cada um a sua e a nossa em separado... Isso é qualquer coisa, menos amor. Sem dúvida alguma há beleza nas águas superficiais, nos rasos... mas elas só molham os pés. A vida exige mergulhos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Terapia de Vidas Passadas

Às vezes não entendemos determinados acontecimentos ou ciclos da vida e vamos em busca de respostas. A terapia de vidas passadas é uma ótima forma. As descobertas são surpreendentes tanto quanto difíceis. E então a gente descobre que o “véu do esquecimento” é realmente uma prova do amor de Deus. Se “apropriar” das verdades que te aprisionam e aprisionam o outro é uma responsabilidade e um peso muito grande para se carregar.

Não fazemos ideia do que uma simples frase dita com emoção e sentimento juntos pode causar. Não sabemos a dimensão do “eu te odeio”, “eu vou me vingar”, “eu te amo para sempre”, “eu vou te esperar”, “eu vou te encontrar”, “me espere”... e ainda há os pactos formados, juras, promessas... as dores, as mágoas, os ressentimentos... de tudo, o mais sublime, mas também mais assustador é o amor que se leva. Acho que pouquíssimas pessoas sabem ou conhecem a força deste sentimento e o quanto de emoção, força e poder ele gera. Um misto doloroso de prisão e liberdade.

Na terapia faz-se uma viagem tão estranha, tão assustadora. A sensação é de medo, muito medo, insegurança e fica ainda pior quando você se torna outro alguém, mesmo sabendo que é você. É louco, apavorante, aterrorizante ver rostos que você conhece em corpos e roupas diferentes – pessoas essas que achava que conhecia desta vida... A primeira vontade que se tem é desistir, mas aí vêm os sonhos e pesadelos que instigam, aguçam o desejo de conhecer verdades. Verdades estas que deveriam ter sido deixadas sob o “véu do esquecimento”.

Após algumas sessões (não é fácil, simples ou rápido)... a primeira visão foi um acampamento cigano – o que já fala muito sobre esta vida... uma alegria enorme em ver aquele lugar e ao mesmo tempo uma dor gigante – difícil descrever o sentimento – mas lembro que me fez chorar muito. Que lugar lindo, muito parecido com um que já visitei e entendi o porquê do fascínio e da repulsa por este lugar.  Tanta revelação que me trouxe a tona o que passou e o que ainda vai se passar nesta vida. Revelações feitas por uma cigana velha que tive o prazer e a honra de reencontrar nesta vida (ah, se eu pudesse contar a ela...). Uma médium maravilhosa que nem sabe que é, mas que já levou muita paz a muitos lares, inclusive ao meu atual. E ela o fazia por instinto, sem estudo. Daí, descobri porque a amo tanto e me preocupo com ela.

Esta cigana velha teve um papel fundamental no passado e no presente e tenho a certeza que ainda vamos nos reencontrar.,. entendi alguns de meus medos e dos medos do outro, descobri os motivos pelos quais algumas pessoas passaram pela minha vida, porque algumas permanecem e porque outras voltarão. A ligação que existe entre almas é grande demais, são afetos e desafetos que permaneceram conosco por conta de situações vividas. O “interessante” – não sei que palavra usar para descrever – é que por mais que fujamos, vem a “vida” e nos traz de volta para que sejam resolvidas pendências e questões e isso, por incrível que pareça, fará um bem enorme e pode, inclusive, encerrar alguns ciclos.

Neste momento, entendemos o porquê de tentarmos sair de uma situação e não conseguirmos. Sempre ouvi dizer que temos nosso livre arbítrio. Temos até a segunda linha, porque se sairmos do caminho, ou o melhor, de onde é a chegada, vem algo e te traz de volta. E o pior é que a gente volta sem nem saber o motivo. É o tal do bom, mas que ao mesmo tempo dá medo. Por que estou aqui de novo? Por que esta pessoa não sai da minha cabeça por mais que faça de tudo para esquecê-la? Por que ainda dói depois de tanto tempo? Por que estou “feliz” aqui, mas queria que fosse com outra pessoa? Por que estas doenças cruzando meu caminho e o caminho das pessoas que amo? Por que fujo desta ou daquela situação? Por que sinto vontade de ir, mas quando vou, sinto vontade de voltar? Por que desta implicância comigo? Por que os caminhos me levam a uma determinada pessoa? Eu quero, mas não quero querer... Muitas perguntas e muitas respostas e o 11 na minha vida...

Após uma das últimas revelações o melhor foi dar um tempo para reorganizar a vida e tentar entender as informações. A minha vida e a vida de algumas pessoas passarão por uma revolução muito grande em pouco tempo. Neste exato momento ou em pouquíssimos dias uma determinada pessoa estará pensando na própria vida e se perguntando: “será que é isso mesmo que eu quero pra mim?, Eu me encaixo neste papel? É essa vida mesmo que eu quero? Estou relativamente bem, mas eu quero mais que isso”, “estou inteiro ou estou me enganado”... E o outro envolvido (não revelo aqui o sexo das pessoas, ou seja, pode ser homem ou mulher) já está pensando nisso há mais tempo e voltará a viver com outro alguém de um passado recente. Ambos tentaram e tentarão mais um pouco, mas não são pares. Seus pares são outros.

Em breve muita coisa vai acontecer que fará estremecer algumas vidas, inclusive a minha. Não são acontecimentos bons – infelizmente – e isso foi o suficiente para matar a minha vontade de saber por hora alguns porquês da vida, de dar continuidade a saber de coisas que, hoje, entendendo, não deveria ter sabido. Busquei respostas e as encontrei, mas isso não me trouxe alegria. Ao contrário. Dizem que para sermos “completos” nesta vida devemos plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Já plantei árvores, nesta vida tive dois filhos (mas ainda estarei mais próximo de um que tive em outra) e das minhas descobertas prometo tentar escrever um livro.

Mas uma coisa de tudo isso é certa: o “véu do esquecimento” é um presente, uma benção de Deus. Do “conheça a verdade e a verdade vos libertará” pode ser em verdade, uma prisão. Como gostaria de poder avisar a algumas pessoas o que está por vir, mas não me é permitido e, além do mais, elas não acreditariam em mim. Mas algumas coisas eu posso alertar: não façam pactos ou juras do que quer que seja, não odeiem, não guardem ressentimentos, não desejem vingança, não exagerem ou façam extravagâncias, não abandonem filhos independente dos acontecimentos que os envolva (e não confiem em quem o faça), deem valor a cada segundo de vida independente de qualquer coisa porque um dia somos e no outro não, não abandonem por medo, não tenham ciúmes ou inveja, não fujam às suas responsabilidades... a vida cobra nesta ou na próxima e uma nova oportunidade pode estar longe demais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Deliciosamente livre...


Estranhamente livre! Deliciosamente livre! Uma maravilhosa sensação de liberdade!!! De olhar, avaliar, não julgar e apenas sorrir... Respirar fundo, se encher de alegria e vislumbrar o que está à frente!

Às vezes pensamos que o que “temos” é o melhor e nos agarramos a isso e temos tanto medo de perder e nos viramos do avesso... Por amor deixamos de perceber o verdadeiro caráter, as condutas não respeitáveis, as mazelas, os maus costumes...

E então o tempo vem e nos mostra que o que tanto admirávamos, na verdade, nunca existiu. O que enxergávamos era um ideal que nunca existiu de verdade, porque o que é verdadeiro permanece íntegro, intacto. Se houve muitas avarias, nunca existiu.

Mas não é culpa do outro se ele nunca foi aquilo que você pensou e/ou idealizou. Claro que não! Ele é o que é e assim será. A culpa é nossa em “fingirmos” que não vemos ou idealizarmos a ponto de ficarmos cegos diante dos absurdos hoje tão bem revelados, tão feiamente mostrados, tão tristemente percebidos.

É bom demais não fazer parte mais da conduta a qual não respeitamos. Enquanto há ignorância, estamos de certa forma livres de algum tipo de julgo. De algum jeito a ignorância nos protege. Mas depois que nos apropriamos da verdade, nos tornamos responsáveis sim e aí passa a ser escolha. Mas melhor de tudo é saber que deixei de vibrar na mesma sintonia.

Ah o tempo!!! Tao conhecedor de tudo!!! Tão revelador!!! O tempo desmascara as aparências, revela mentiras, expõe o caráter... Quem é filha do Tempo sabe bem que o Tempo é vagaroso, é amigo e se oferece para que tudo seja exposto e seus filhos recebam aquilo que de fato é verdadeiro e sigam... deliciosamente livres...

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Está tudo bem precisar de um tempo

Diariamente novos ciclos se iniciam e se findam. Não há mal algum nisso. Ao contrário, faz parte da vida. Alguns ciclos são maiores que dias, semanas, meses, anos... Quanto mais tempo dura um determinado ciclo, pode ser que seja necessário um tempo para pensar. E está tudo bem.

 

Dar um tempo pode ser uma necessidade para encerrar um ciclo. Ah, o tempo. Por vezes não aceitamos por dentro o encerramento de um ciclo. Daí vem o temó que ajeita as coisas, sentimentos e emoções e nos mostra verdades “escondidas”. O ciclo pode não ter sido encerrado para si, mas foi para o outro.

 

Durante o tempo de compreensão, nos enxergamos melhor e enxergamos o outro. Muitas das vezes uma decepção nos traz a tona para respirar. O tempo pode trazer as verdades que não sabíamos e, então, entendemos o porquê o ciclo foi encerrado. A decepção pode ser mais amiga que supomos.

 

As verdades são distintas para cada um. Trata-se das perspectivas. O que muitas vezes nos decepciona faz parte da característica do outro e “fingíamos” que não víamos por amor. É decepcionante demais enxergar quanta maldade pode existir numa pessoa a qual devotamos amor e confiança. A maldade existe em todo ser humano, mas somos nós que temos que domá-la.

 

Quando doamos o que temos de melhor e mais puro e o outro retribui com a traição, o problema de caráter é do outro, não nosso. Aí entra o tempo que nos mostra a verdade escondida e tudo que não fazia sentido toma ainda mais forma. Some a culpa, a dor... fica apenas a verdade mostrada “sem querer”.

 

“Não me queira mal”. Com a mais absoluta certeza não quero ou quererei mal de forma alguma. S o fizesse a falha de caráter seria minha. Eu desejo o bem, desejo que aprenda o que é respeito, fidelidade, reciprocidade, verdade, amor... principalmente amor! Porque quando conhecemos isso, todo o resto vem junto, inclusive a alegria e o bem-estar.

 

Se dar um tempo é muito bom. O tempo nos traz grandes ensinamentos, nos revela verdades... e, de fato, o tempo é o senhor da razão. “Meu nome é tempo e não sou tão ruim quanto pareço. Ao contrário do que muitos dizem, não existo para curar feridas e nem esfriar sentimentos. Eu apenas fortaleço o que é verdade”. Assim me disse o tempo.

 

Não tive ferida curada, meus sentimentos não foram esfriados, não existe em mim mágoa, dor, ressentimento ou qualquer outro tipo de sentimento ruim ou negativo. Ficou a decepção, é claro, porque o tempo fortaleceu uma verdade dura, pra mim “desconhecida”.

 

A verdade dói. Descobrir algumas falhas de caráter de alguém que admirávamos pela conduta que parecia ter, que faz questão de se mostrar virtuoso, é terrível. Quanta dissimulação! Pelo tempo que amei, pelo tempo que desejei, por mim, por ele, por nós, por absolutamente tudo queria que a verdade fosse outra.

 

Está tudo bem precisar de um tempo, afinal, ele fortalece verdades – que gostaria que fosse outra – e eu não mereço viver DE e NA MENTIRA. Tenho muitos defeitos, mas SOU DE VERDADE E GOSTO DELA. Que o que for verdadeiro venha e se estabeleça na minha vida.


domingo, 26 de julho de 2020

Formas de amar



amor é amor e ponto. Mas existem formas de amar. E como virginiana que sou, a minha forma de amar é bem complexa, cheia de muitos detalhes. Isso vale para o amor na sua essência, o sexo e a intimidade. Amor pra mim envolve cuidado e fazer o outro se sentir importante e amado. Minha forma de fazer isso é meio boba, mas é como sei.

Quando acontece algo bom ou ruim, a primeira pessoa que me vem a cabeça para eu compartilhar é quem eu amo. Ela pode não saber, mas isso a eleva a uma condição mais que especial. Ela é a quem vem à minha cabeça na luz (coisa boa) e na escuridão (coisa ruim);

Como adoro ver quem amo bonito, gosto muito de presentear com roupa e não precisa ser uma data comemorativa. Se passo, vejo algo e isso me remete a quem amo, compro. O quero bonito e arrumado para que todos vejam que é bem cuidado, que tem alguém que se importa e cuida com zelo e carinho.

Digo que amo a cada oportunidade que tenho porque acho que ouvir EU TE AMO falado com o que há de mais puro dentro de si é importante para mim que falo e pra ele que ouve. E todas as vezes que falei foram ditas com a mais pura verdade que há em mim.

Não sou boa dona de casa, mas procuro sempre deixar a casa limpa e arrumada para trazer sensação de bem estar a quem amo, mas a cama... ah, a cama está sempre com lençóis limpos, cheirosos e passados para sempre passar a sensação de abraço ao nos deitarmos, mas para serem desarrumados e amassados sem cerimônia ou medo de sujar.

Não sou “melosa”, então quando a pessoa passa por mim distraída, dou aquela esbarradinha gostosa, mesmo que me machuque. Estou com isso dizendo que estou te vendo passar e quero te tocar. Gosto de abraçar, beijar, tocar o rosto... sou capaz de reconhecer quem amo só no toque, de olhos fechados. O enxergo em todos os sentidos e com todos os meus sentidos. Da visão ao paladar, passando, é claro, pelo tato.

Como olho com os olhos da alma e toco com apreciação, desenvolvi a capacidade de conhecer cada marca, cada sinal, cada pinta, cada curva... e admiro e potencializo e verbalizo minha análise de cada parte do corpo e o que ela expressa.

A boca em si e o quanto o sorriso é bonito e a sensação que me traz. O sorriso precisa me abraçar para ser sorriso; os olhos na sua cor especial e o que me faz sentir quando nossos olhares se encontram, tem que ser doce; a mão que tem particularidades que eu tenho a absoluta certeza, que só eu notei, e a sensação que me traz quando toca meu corpo, precisa também tocar minha alma; todo o corpo nu ou vestido, deitado, quando olho, olho com admiração, com o respeito mais desrespeitoso e toco com o maior carinho e desejo.

O sexo para mim só é possível com muito desejo, muito tesão e com muito amor, tem que envolver TODOS os sentidos e muita amplidão. Sexo por sexo não funciona e nunca funcionará na minha concepção. Só se pode ser feito se realmente existe amor e o desejo de permanecer, porque aí entra a intimidade. Não a intimidade de tirar a roupa – tiramos a roupa para um médico que nunca vimos antes, numa cirurgia ficamos nus e não sabemos nem quem está nos vendo... Intimidade pra mim é muito mais que isso.

Pra mim o mais alto grau de intimidade acontece justamente depois do sexo – que como já disse tem que ser feito com amor – que é o pousar, repousar e se entregar. Sim! Se entregar! Adormecer nos braços de alguém, babar no peito depois de fazer amor é o maior grau de intimidade que dei a uma pessoa. Naquele momento, desprotegida, sou a pessoa mais entregue. Porque confio plenamente e durmo na mais absoluta certeza que estou e estarei protegida.

Nesta encarnação só amei e amo com o que chamo de plenitude um único homem. Dele fiz a pessoa mais especial. Para estar com ele tive que ultrapassar muitas barreiras, enfrentar muitos problemas, viajar alguns bons pares de quilômetros – de carro, de ônibus, de avião – só para ter o que chamo “horinhas de descuido”. Estas “horinhas” são aqueles momentos especiais que só temos e sentimos quando amamos alguém.

São tantas as particularidades... são tantas complexidades. Mas não sou perfeita e não serei. O amor pra mim está também nas imperfeições, nos defeitos... se tornando encaixes perfeitos do imperfeito, do irracional, do não compreensível... porque amar é aceitar o todo, o completo. E pode ter a mais absoluta certeza que quando eu disse a ele “eu te amo” pela primeira vez – me lembro a ocasião (não foi depois de fazer amor) e o lugar, mas não lembro o dia – foi com a mesma certeza que seguiria amando quando disse pela última vez. E eu sigo...



quarta-feira, 8 de julho de 2020

Magia é boa ou má?


A magia, a energia são boas ou más?

A magia, a energia são neutras, assim como a faca. Uma faca não é boa nem má. A faca que reparte o pão é a mesma que pode matar. TUDO DEPENDE DO PROPÓSITO DE QUEM USA.

Que a energia e a magia desta Lua linda que brilha no céu nos traga paz, tranquilidade, harmonia, equilíbrio, prosperidade, alegria, perdão, compaixão, amor... muito amor!!! #gratidao

terça-feira, 9 de junho de 2020

Quebra-cabeças


Em diversas ocasiões julgamos coisas, situações, pessoas... medimos com a nossa régua, enxergamos com os nossos olhos. Quanto equívoco. Podemos e devemos analisar, avaliar – é lícito que o façamos – mas, acima de tudo, fazer com o máximo de isenção possível. Aí entra o tempo para auxiliar. Só o tempo e a distância nos capacitam com a isenção para análises. E então, descubro que nunca foi o outro, sempre fui eu. Aquele velho clichê “o problemas não é você, sou eu” fica tão real que assusta, mas obriga a fazer um mergulho ainda mais profundo no interno.

As peças não se encaixam, são incompatíveis. Assim como em um quebra-cabeças, não há como encaixar uma mesma peça em duas peças diferentes, na vida, em todos os tipos de relação é a mesma coisa. Um dos encaixes não é perfeito. Poderia até parecer perfeito. Parecer. Mas de verdade, não o era. O perfeito encaixe era outro. Não é uma questão de ser mais ou menos, maior ou menor, bom ou mau, bem ou mal, melhor ou pior... só não era o encaixe perfeito. Só isso.

O tempo e a distância nos tiram a miopia. Vemos as outras peças tão bem encaixadas nas formas de ser, de agir e pensar, nas atitudes, nos gostos, nos gestos, nas preferências... que o jogo se completa. Enfim, se completa o quebra-cabeças com a perfeita e verdadeira peça que faltava. Um encontro de almas. E aquela outra peça que achava que se encaixava tão bem, descobre que, na verdade, não fazia parte daquele jogo. Ela tem outra forma de ser, de agir, de pensar... ela jamais tomaria outra forma para fingir um encaixe. Ela é diferente demais. É a verdadeira e perfeita peça, só que de um outro quebra-cabeças que ela quer jogar.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

"Não me queira mal"


“Não me queira mal”. Eu ouvi este pedido há algum tempo. E essa frase ecoou na minha mente por um longo tempo e vira e mexe ela volta a habitar meus pensamentos. Como assim “não me queira mal”?! Me pego até hoje pensando o porquê desta frase dita com tanto sentimento. Não há ninguém neste mundo que eu queira mal, muito menos alguém que tanto amei e tanto bem me fez. Me assusta a ideia de pensar que por um único instante você considerou que eu alguma vez quereria mal a você. Às pessoas me fizeram mal eu só peço a Deus que as mantenha distante de mim. Só isso. Não há mal querer no amor.

O que eu quero pra você, eu quero pra mim! E eu te desejo muito AMOR!!!! Amor de manhã, amor de tarde, amor de noite; amor de mãe, amor de pai, amor de filho, amor de irmão, amor de amigo; amor meu, amor teu, amor nosso, amor de todo mundo; amor de primavera, amor de verão, amor de outono, amor de inverno, amor de toda estação; amor que venha com beijo, amor que mate desejo, amor que deixe saudade, amor correspondido; amor de sol, amor de chuva, amor de vento, amor de tempestade, amor de verdade; amor a cada raiar do dia, amor a cada entardecer, amor a cada noite, amor pra valer; amor de uma vida, amor de outras vidas, amor que ofereça vida, amor pra toda vida; amor próprio, amor de outro, amor incondicional; amor gratuito, daqueles que você nem sabe por que volta, porque a única coisa que te prende, é o amor pelo amor; amor que se sente falta, que tem cheiro de saudade, que deixa a alma volátil, e que só de pensar dá tesão; amor que te faça partir, mas que principalmente, te faça voltar... amor de verdade e com verdade.

Desejo que tua vida seja repleta de todos esses amores, que você possa experimentar cada um deles e, que um, em especial, reúna todas essas formas que te desejei de amar!

domingo, 31 de maio de 2020

Carta para Deus


Querido Deus,


Não sei bem por onde começar. As idéias andam desordenadas e as palavras me fogem ou não parecem fazer sentido. Tento acalmar corpo, mente, alma, coração e não consigo. É como se eu estivesse no olho do furacão. Sinto dor, minha alma está muito machucada, está dilacerada e não tenho forças para me curar. A dor me engoliu.

Nem de longe me pareço com quem um dia eu fui. Eu tinha sonhos, tinha alegria de viver. Eu perdi e me perdi e não me encontro. Desejei algumas coisas com o mais profundo de minha alma e mesmo assim as perdi. Fiz o melhor que pude com o que tinha e sabia e o fiz de corpo, coração e almas nus e, ainda assim, perdi. Não estou dando conta de suportar, Deus.

Não sei onde ou porquê perdi o que mais me dava alegria nesta vida, que fazia me sentir viva, inteira... Perdi meu maior refúgio, meu lugar preferido, minha alegria, meu amor, meu amigo... Ah, Deus, que golpe duro. Não estou sendo capaz de me refazer. Um misto triste de sentimentos que paralisam, mas que causam uma dor imensa. Dentro de mim há Deus e eu O estou buscando, mas são tantos os escombros que acho que como eu, o senhor também morreu. Me perdoe por nos ter matado e não é nobre morrer de amor.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O merecimento


“O merecimento maior é do homem que se encontra na arena com o rosto manchado de sangue, suor e poeira... Que conhece os grandes entusiasmos, as grandes devoções; que sacrifica a si próprio por uma causa digna, e que, quando muito, experimenta no final o triunfo de uma grande realização... E, se ele fracassa, pelo menos fracassou ao ousar grandes coisas e, por isso mesmo, seu lugar nunca pode ser tomado por essas almas tímidas e frias, que não conhecem nem vitórias nem derrotas”.
John F. Kennedy

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Este pensamento de John Kennedy sempre me foi tão profundo... por quantas vezes na vida buscamos, lutamos, corremos atrás de algo, de alguma situação e conseguimos. Eita que a sensação é boa demais. É como se todo o esforço feito tivesse a conquista como recompensa. Em outras vezes não recebemos a recompensa pelas inúmeras tentativas. É claro que a sensação não é boa, mas também vale a pena. E vale a pena porque não houve o medo de tentar, de tentar de novo e de novo e de novo... até a exaustão. Isso também nos faz grande. Houve o fracasso, houve a derrota é bem verdade, mas pelo menos foi ousada uma grande coisa, talvez até uma coisa com um valor inestimável. A vida é assim: composta de vitórias, de derrotas... e assim vamos nos construindo, desconstruindo, reconstruindo... Ao final, podemos até não sermos mais os mesmos, mas devemos continuar tentando ser o melhor que podemos com o que sabemos. Triste mesmo é quem desiste.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Não sou eu quem pede, é o AMOR que grita


Olha só você fazendo confusão entre minha mente e meu coração. Que belo enigma esse seu jeito de agir me traz! Aos poucos venho percebendo a armadura que você vestiu, o que você não percebe é que com ela eu não consigo sentir o que vem de você.

Não consigo entender os teus sinais ou as tuas intenções. Alguma coisa dentro de mim diz que se eu quiser entrar no teu coração, terá que ser com muita calma, mas você precisa colaborar também.

Talvez ao te dar espaço você pense que eu não desejo esse mergulho, se sinta inseguro, mas é que realmente eu não sei como agir. É difícil sentir um coração que se protege. É difícil corresponder as tuas expectativas quando teu medo da vulnerabilidade te tira a naturalidade e esconde as tuas necessidades.

Comigo você não precisa disso, não quero me relacionar com tua armadura, eu já conheço muito do que você esconde e talvez se soubesse que quanto mais você se mostra mais eu me apaixono, você abandonaria os teus escudos de vez.

Eu já tive um deslumbre da tua alma, eu cheguei em tua vida em um momento que ela sangrava, lembra? Quando tua dor amenizou você voltou a vestir tua proteção, eu recuei quando percebi que estava diante de um muro.

A vida teve um jeito torto de me mostrar de que você se importa, de me fazer entender que era recíproco. Eu não sou perfeita e você sabe bem disso, mas eu sou doação, entrega... Eu estou inteira e sei que tenho aquilo que você está buscando.

Solta esse medo, vamos crescer juntos. Lá no fundo você sabe que podemos ir longe. É disso que você tem medo? Se desconstrói, se desarma e abre espaço aí dentro, não sou só eu quem pede, é o AMOR que grita passagem.

Eu te amo... até sempre... pra sempre!

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Gosto de festa


Toda vez que me abraço contigo

São tantos motivos pra enlouquecer
Te esquecer, juro que não consigo
Me viro do avesso pra não te perder
Quando estou viajando em teus beijos
São tantos desejos que sinto nascer
Se um dia você me deixar, eu não deixo você
Ao sentir tuas mãos flutuar em meu corpo
Me desprendo de mim sem fazer alvoroço
Coração fica alerta, minhas portas abertas
E as palavras que surgem eu não posso dizer
São momentos sem fim, você dono de mim
Saboroso prazer, dá gosto de viver
Esse gosto de festa, a minha alma em festa
Como foi bom te conhecer.
Dominguinhos do Estácio

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Algumas músicas são tão belas, são verdadeiras declarações de amor. Há alguns pares de anos escrevi esta música como forma de declaração de amor ao meu amor, em um papelão. Engraçado como algumas atitudes nos sentenciam. Hoje, depois de tanto tempo, depois de tantas coisas, tantas situações – algumas fáceis, outras nem tanto – eu ainda te amo tanto. E como na música, “se um dia, você me deixar, eu não deixo você”. E eu não te deixei. Por mais difícil e doloroso que seja, em momento algum me arrependo de ter conhecido você, de ter despido a minha alma, de ter me entregue de alma, corpo, coração... Com a mais absoluta certeza o amor que sinto por você é o melhor sentimento, o mais profundo que já senti por um homem. Como foi bom te conhecer. Eu te amo... até sempre.

terça-feira, 28 de abril de 2020

O tempo


“Ter menos para ser menos propriedade das coisas. O excesso a ser administrado nos rouba o bem mais precioso: o tempo”.

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Ah, o tempo! Sempre avassalador, sempre dono de si e de tudo mais. Quanta perda de tempo passar o tempo, pensando no tempo futuro – que pode ser que nem chegue – deixando de viver o tempo presente.

Há quem caminhe lentamente sobre o seu tempo e há quem o atropele. Ambos se equivocam com o próprio tempo achando que ele é infinito, mas escorre por entre os dedos. É hora de valorizar o tempo, porque uma hora ele é tempo e na outra, não mais.

Tempo é presente precioso e já que vamos perdê-lo que seja com quem verdadeiramente amamos.

sábado, 25 de abril de 2020

O que se perde, o que se ganha...


Já falei em uma postagem que sou lerda para algumas coisas, mas quando se trata de sentimentos, sou uma perfeita idiota. Na maioria das vezes, interpreto errado e o preço que pago é alto... quando considerei de fato fazer minha iniciação no Candomblé considerei algumas coisas e superestimei outras. E, é claro, que o resultado não foi dos melhores. Eu não sou boa de entrelinhas, não sei ler este tipo de diálogo.

Não sou uma pessoa carinhosa, mas sou pau pra toda obra e se eu amo alguém, não meço esforços. Não sei se isso é defeito ou qualidade. O amor pra mim é sagrado e eu amo por inteiro, com plenitude, desarmada e com a alma nua e sempre espero o melhor do amor, até porque faço o melhor que posso, com o que tenho e com o que sei. Pode até não ser o melhor para os outros, mas com a absoluta certeza, é o meu melhor, meu mais puro, meu mais profundo.

E eu perdi. Supervalorizei o amor. E perdi o que tanto prezava. Perdi sem opção de escolha, porque se tivesse que escolher o meu amor mil vezes, eu escolheria mil e uma. E eu perdi sem sequer ouvir uma única palavra. Quando eu vi, já não existia. E tudo que eu considerava tão sagrado, tão meu, já não era mais.

Em cada escolha do meu amor, em mim ele encontrou total apoio. E foram muitas as escolhas. Conheci em uma profissão e, em 15 anos de convívio, foram algumas outras. E, em todas as escolhas, o meu apoio. De lugar foram outras tantas escolhas e lá estava eu. Viajei alguns pares de quilômetros de carro, de ônibus, de avião. Porque pra mim o amor passa pelo apoio, pela cumplicidade. Sem contar que mudaram as profissões, os lugares, mas a pessoa é a mesma e com o amor ao lado se caminha mais firme. E, caso algo não saia como esperado, se tem o melhor lugar para pousar: nos braços de quem nos ama.

Na nudez da alma eu tinha o maior orgulho de dizer que o amor é maravilhoso e que eu o conhecia. Orgulho sem soberba. Do meu amor sempre falei com amor, alegria. Além de amor, sempre falei que era meu melhor amigo. Desde quando o conheci, quando acontecia algo bom, ele era a primeira pessoa que eu pensava e contava. E, se acontecia algo ruim, também era nele que pensava e pra ele que contava. E, ainda hoje, ele é a primeira pessoa em quem penso, mas já não tenho como contar.

E quando escolhi fazer minha iniciação jamais pensei que seria assim. Nem nos meus piores pesadelos achei que isso me aconteceria. Eu de verdade acreditei que meu amor e eu ficaríamos juntos por toda vida e que envelheceríamos juntos em algum lugar tranqüilo do interior. Eu realmente acreditei nisso e nunca imaginei que seria de outra forma. Em anos eu apoiei tantas escolhas – e algumas foram desafiadoras – e eu só fiz uma escolha.

É tão estranho. Eu sou um ser humano como qualquer outro, com defeitos e qualidades; sou uma pessoa séria, digna, correta, honesta; sou uma profissional que trabalha muito para colocar na mesa o pão nosso de cada dia; sou uma mãe que faz o possível para e pelos filhos; não sou boa dona de casa, mas cuido da minha casa com zelo e carinho; sou uma mulher bacana; não faço e não desejo mal a ninguém. Eu creio em Deus e nas forças da Natureza, amo Nossa Senhora. Não sou do mal, não apoio o mal, não aprendi a virar a cabeça como a menininha do filme “O Exorcista”, tampouco aprendi a subir paredes de costas.

O que eu aprendi na minha iniciação no Candomblé? Aprendi a silenciar, domar mais meus impulsos, ser menos explosiva, olhar pra dentro de mim, respirar fundo quando as cosias saem do “controle”. E outras coisas ficaram ainda mais fortes dentro de mim. Deus está em todas as coisas e isso inclui dentro de cada um de nós; o amor é o mais forte e o mais nobre dos sentimentos; podemos nos compadecer da dor do outro, mas jamais senti-la, então a dor do outro tem que ser respeitada; que o diálogo é de suma importância para todo tipo de relação; tudo que te é de valor deve ser preservado com respeito, carinho e amor; que não podemos voltar atrás, mas podemos recomeçar, retomar a qualquer tempo; que o coração do outro é terra sagrada, então só se pisa com muito amor.

Eu sou a Audrey. Eu sou ser humano, filha, mãe, profissional, dona de casa, mulher...
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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Seres desumanos...


O ser humano é quase tudo, menos humano.

Depois que voltei ao trabalho, só trabalhei por duas semanas por conta da pandemia de Covid-19. Mas foram duas semanas que algumas pessoas me deixaram impressionadíssima com a falta de discernimento, de afeto, de humanidade, nem sei de mais o quê. Vivi diversas situações desconfortáveis pra mim e vexatória para o outro. Não senti e não sinto vergonha da religião, mas sinto vergonha do outro, que fala cada coisa absurda.

Como já falei, trabalho com um político e o acompanho em agendas oficiais... Quando se faz a iniciação no Candomblé, a cabeça é raspada. Portanto, a pessoa fica sem cabelo. Contudo, a cabeça fica coberta até que sejam cumpridos os três meses de resguardo. Então, o iniciado – no trabalho – fica com a cabeça coberta por um lenço claro e discreto (nas demais ocasiões, o pano de cabeça branco). Fora o lenço, minha aparência é absolutamente normal. Lenço é uma coisa que até está na moda. Imagina.

Certo dia, chegando a uma determinada repartição pública, acompanhando meu chefe, uma senhora se aproximou de mim com um largo sorriso – eu disse largo sorriso – e me perguntou se eu estava com câncer. E eu respondi: “graças a Deus ainda não. Eu fiz o santo”. Na mesma hora o largo sorriso saiu do rosto dela, seu olhar se transformou e ela me olhou com tanto repúdio que chegou a me causar espanto. Acho que a decepcionei profundamente. Penso que ela preferiria que eu estivesse com uma doença grave. Como assim?!

Sabe o que é pior? Essa não foi a única vez que isso aconteceu. Em duas breves semanas de trabalho, isso me aconteceu umas seis vezes ou mais (parei de contar). Que triste! As pessoas achariam melhor ou mais certo ou sei lá, se eu estivesse com uma doença grave que anualmente quita a vida de dezenas de milhares de pessoas todo ano no mundo. O que será que eles pensam? A fé deles é processada em qual Deus? Ainda são humanos? São cristãos? Eu não sei. Sinceramente não sei. Uma coisa eu sei. Nenhuma destas pessoas me viram como uma pessoa, como um semelhante ou como um ser humano.

As crenças podem ser distintas, a fé pode ser processada de várias formas... o que as pessoas não deveriam esquecer é que somos todos seres humanos e devemos processar mais o amor ao próximo. Isso não é uma questão religiosa. É só uma questão de respeito, que inclui o respeito ao sentimento do outro. Como pode alguém achar mais louvável que uma pessoa que esteja de lenço esteja com câncer?! Nossa! Que coisa mais triste!

Todos os dias na volta do meu trabalho – trabalho distante da minha casa, cerca de 40 minutos de carro com o trânsito livre – eu vinha fazendo minhas preces a Deus e aos Voduns para que perdoassem os ignorantes e isso me inclui, e que me fizessem sempre e cada vez mais humana e que meus olhos nunca ficassem vendados, para que possa enxergar o ser humano, ainda que ele não seja humano comigo.
Continua...