sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Amar é um ato de coragem


Há cerca de um ano a minha vida passava por uma reviravolta enorme e eu não sabia. Eu perdia o homem que de fato amei – coisa que jamais pensei que ocorreria e muito menos da forma que foi. Ah, o ser humano. Durante alguns pares de anos vivi com o homem pelo qual eu nutria os mais profundos amor e admiração. Passamos por muitos desafios, mas também por momentos fantásticos – os melhores da minha vida e que, sem dúvida, ficarão eternizados. Ele foi o grande amor da minha vida. Ele É o grande amor da minha vida mesmo que estejamos trilhando caminhos diferentes.

Mas não se pode amar sozinho e eu amava sozinha. Só que eu não sabia e descobri de uma maneira muito triste. Não houve uma conversa. Descobri, através de uma rede social que eu não fazia mais parte da vida dele. Uma dor enorme me invadiu. Na mesma época enfrentava um tumor no útero – não parava de sangrar, meu filho estava me dando um trabalho enorme e eu ainda me preparava para fazer minha iniciação no espiritual. Tudo que mais queria era tê-lo ao meu lado – e como eu precisava dele.

Eu tentei – e não me envergonho disso – recuperar o meu amor, mas não fui capaz. E entrei para a minha iniciação espiritual com o coração muito machucado e sofrido. Apesar da dor devastadora que sentia, cumpri cada compromisso, cada função com dedicação e amor. Fiz meu melhor sem uma única reclamação. Foi um período muito difícil. Mergulhei no mais profundo de mim e vi muita dor, mais dor que eu podia suportar. Em pouquíssimo tempo perdi quase 15 quilos.

Passados quatro meses da minha iniciação, uma vez mais voltei a procurar o meu amor e, desta vez, me envergonho de tê-lo feito. Foi uma situação constrangedora na qual ouvi palavras duras que feriram ainda mais a minha alma. E, quando pensei que já não era mais possível sentir dor maior, eis que surge a vida e me surpreende. E, desta vez, não consegui suportar e desmoronei. Me senti como um animal abatido. Eu que tinha tanta alegria de viver acabei por sucumbir.

Tudo que me era tão sagrado, tão profundo, tão especial já não existia mais e eu me perguntava o porquê e não obtinha resposta. Por mais que eu tentasse entender, aceitar, engolir, sei lá, qualquer coisa... eu não conseguia. Me sentia culpada, incapaz, infeliz... eu era a visão da mais profunda tristeza. Me olhava no espelho e não me reconhecia. Perdi a conta das vezes que me olhei no espelho na tentativa de encontrar um resquício do que eu era. Então busquei no estudo e na terapia auxilio. Não era justo que o sentimento mais bonito e mais profundo que senti nesta vida me definhasse daquela forma.

E aos poucos, um dia de cada vez, fui me dando conta que eu não tinha culpa de absolutamente nada, que, na verdade, não havia culpados, que por mais que você ame uma pessoa ela não tem a mais remota obrigação de te amar de volta, ninguém é obrigada a corresponder às nossas expectativas ou agir da maneira que consideramos correta. Somos seres individuais que agimos com o outro de acordo com o nosso caráter e nossos princípios.

Um ano se passou. Sem dúvida alguma foi o ano mais difícil da minha vida, mas, também, com a mais absoluta certeza, foi um ano de grande aprendizado. Ser frágil não é sinônimo de fraqueza, muito pelo contrário. Demonstrar fragilidade é sinônimo de coragem e amar é um ato corajoso. Eu fui corajosa por amar e confiar com a alma total e completamente desnuda. Eu sou corajosa. Eu amo. O D* foi e é o grande amor da minha vida. Quando o conheci sabia que era AMOR e que eu o amaria por toda esta vida... o amor permanece, mas a dor não.

domingo, 11 de outubro de 2020

A superficialidade, o raso

Viver requer compromisso, mas, acima de tudo, comprometimento. Aí o bicho pega! Se comprometer de verdade pode ser mais difícil e exigir mais esforço que se pode supor. Por isso há quem inicie ciclos em cima de ciclos, numa pressa desenfreada em viver algo desesperadamente não por sede de vida, mas por carência, por medo de ficar só. E então só consegue viver a superficialidade dos inícios, o raso das relações como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo e acabam por se frustrar.

Tudo é tão bonito, tão mágico, tão fofo, tão tão... porque reque tudo, menos comprometimento. Trata-se do oba oba, apenas dos bons momentos a dois, da superficialidade dos encontros que em nada demonstram o que de fato é a vida real. São apenas sonhos e ilusões. Tão raso! Nada existe de profundo, de real... se quer conhece de fato com quem está. É o abstrato do que se quer e não se é capaz. A falsa felicidade, porque para fora tudo parece tão lindo, tão perfeito... para dentro o vazio, a tristeza de querer tornar real a própria mentira inventada – que por um tempo até acredita nela – e a consciência de que ainda não é isso, por mais esforço que se faça. Até porque felicidade não precisa de publicidade, porque esta só vende ilusão.

Como a vida real requer comprometimento, é necessário viver o dia a dia. É claro que existem os momentos mais sublimes em todas as relações, sejam elas profundas ou rasas. Mas para se tornar palpável, real, verdadeiro, é necessário entender e aceitar que há um entorno que fará parte da relação, haverá adversidades, enfermidades, dias bons e ruins, família, passado, dias de sol e chuva, convivência diária com qualidades, mas também com defeitos em tempo integral... sem subterfúgios, sejam eles quais forem. Se para ser bom precisa fugir da realidade ou criar realidades paralelas... opa! Sinal de alerta.

Tornar sonhos em realidade não é tão difícil. O difícil mesmo é pegar esta realidade e se comprometer verdadeiramente, sem fuga. De superficialidades e do raso é fácil sobreviver, mas é necessário ter a consciência que isso não é real. Porque a vida mesmo precisa ser real e, para ser real, ela requer amor e comprometimento, aceitar e unir ambas as realidades e transformá-las em uma única realidade a ser compartilhada a dois, três, quatro, cinco... e não cada um a sua e a nossa em separado... Isso é qualquer coisa, menos amor. Sem dúvida alguma há beleza nas águas superficiais, nos rasos... mas elas só molham os pés. A vida exige mergulhos.