quarta-feira, 15 de junho de 2022

Forjar é para metais

“Forjar é o ato de fabricar algo na forja, isto é, modelar mental ou outro material através de uma forja.


Normalmente, o ato de forjar tem o metal como elemento principal. Quem realiza o trabalho na forja é o ferreiro.

No sentido figurado, forjar significa inventar, no sentido de dar origem a alguma coisa a partir do nada, sendo em geral algo que não é real, uma evidência falsa.

Sinônimos: adulterar, armar, compor, criar, elaborar, fabricar, fazer, idealizar, inventar, manipular, manufaturar, maquinar, modelar, tramar, urdir”.

 

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Nunca vi o trabalho de um ferreiro forjando uma peça de metal – o que lamento profundamente, já que considero o trabalho artesanal lindíssimo. Mas ao longo da minha vida já vi tanta gente forjar os mais variados tipos de atitudes e sentimentos – o que também lamento, já que considero o falso terrível.

É engraçada esta comparação e ao mesmo tempo tão assustadora. Uma peça forjada é duradoura, é forte, é a transformação do metal bruto, pesado em proteção, em arte, mas também em arma. Os ferreiros forjavam ferraduras para proteger os cascos do cavalo, faziam objetos que serviam de adorno, mas também forjavam espadas que quitam vidas.

Forjar atitudes e sentimentos pode ser uma das piores forjas do ser humano. Pode ser “duradouro”, mas não é real e isso independe do que esteja sendo forjado – atitudes ou sentimentos. A forja, a mentira machucam mais que uma dura verdade, que uma nua realidade, e têm prazo de validade. Ao final, se fere, mas também se é ferido. Refugar a realidade, forjando sentimentos e atitudes pode ser tão fatal quando uma espada... cravada no peito do outro, mas também em si mesmo.

Forjar é para metais. Qualquer coisa diferente disso pode ser fatal.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Audrey, por Audrey

“E foi tão corpo que foi puro espírito. A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente. Bem atrás do pensamento tenho um fundo musical. Escuta: ‘Eu te deixo ser, deixa-me ser então’... Sabe o que eu quero de verdade?! Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma...

A maioria das pessoas está morta e não sabe, ou está viva com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece... Por enquanto, estou inventando... Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos... Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações”, Clarice Lispector.

 

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 Então eu sou! Sou fera, sou bicho, sou onça... tão cheia de garras e também de sonhos. Não vivo de mentiras e nem de meias verdades... hoje sou minha maior prioridade. Não gosto do raso, não sou do pouco... a minha sede pede inundações e eu transbordo. Vivo melhor! Vivo mais livre e mais completa. Ouço e me entrego aos desejos que nascem no segredo de mim mesma.

E também sou dos exageros, das grandiosidades – é exatamente assim que vejo, que sinto – e, por ser do muito, até quando erro, erro muito. Imagina quando amo! Puts! É sem limite! É tudo muito de verdade, intenso e sou capaz de decorar e perceber detalhes até então nunca sequer vistos! Definitivamente eu prefiro morrer a viver com charlatanismo, e o que não me falta é vida e vontade de viver.

Audrey, por Audrey