segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Olha pra você!

Olha pra você! Tentando forjar uma felicidade que não existe, construindo um castelo em solo arenoso e tentando se equilibrar na corda bamba... tentando se espremer para caber num mundo que você não é principal, nem coadjuvante. Essa é a tua tentativa de demonstrar que é capaz de manter algo. Para quê? Para quem?


Olha pra você! Que copo de bebida é este na tua mão? Que falso sorriso é esse fingindo concordar com aquilo que te agride e, na verdade, acha fútil, ridículo e exposição sem senso? Que alívio é esse que você sente quando sai da realidade da rotina que te engole? Que tristeza é essa que você sente quando olha o distante? Que dor é essa que te aflige e faz doer o peito?

Olha pra você! Por tantas vezes se questionou como as pessoas mantinham um casamento de conveniência e infelicidade, e você está descobrindo na prática. Agora sabe o motivo: a pressa, o medo de envelhecer sozinho, medo do fracasso, medo de se entregar ao verdadeiro amor, medo de aceitar o imperfeito, medo de ser julgado, medo de ser fraco, medo...

Olha pra você! Repetindo ações e gestos de amor que já foram feitos para outra pessoa. Tentativa inútil de recriar uma realidade. (Vou te contar um segredo: as pessoas são únicas. O que agrada uma, não agrada a outra na mesma proporção). O que você está tentando? O sonho de viver em meio a Natureza também foi sonhado em outra ocasião. O mezanino, o quarto sem portas, o barulho das águas, o cantar dos pássaros, caminhar de mãos dadas...

Olha pra você! O que chama de amor, na verdade, é conveniência. Um precisa do outro. Não do amor um do outro, mas do apoio para seguir em frente, mas não vai muito a frente, porque o amor pertence a outros. Ambos precisam provar que são capazes não para si, mas para quem, sem saber, os machucou e, ainda assim, não tiram do pensamento, do coração (e isso inclui na hora do amor).

Olha pra você! Já perdeu tanto e vai se permitir perder ainda mais. Perdeu amigos, perdeu pessoas que amava, vai perder mais e, ainda está perdendo a saúde. Quando se forja felicidade, empurra-se a infelicidade para debaixo do tapete e ela vai amontoando, amontoando e, quando nos damos conta, estamos tomados de dor. É uma doença silenciosa que corrói e, aos poucos, nos tira a vida.

Olha pra você! Esqueceu do carinho, do amor, do apoio, da amizade e da compreensão que recebeu nos momentos difíceis. E, quando foi a vez de ser recíproco, achou melhor simplesmente deixar pra lá. Esqueceu que magoar, maltratar, trair o outro é um duro golpe em si mesmo, afinal, você fazia morada no coração que destruiu. Sendo assim, você destruiu a si próprio.

E, agora, olha pra você! Mas olha mesmo porque a semente que você plantou, germinou, cresceu e está próxima a colheita. E tenha a mais absoluta certeza que não te quis mal em nenhum momento. Eu não te abandonei hora alguma, nem nos momentos mais difíceis e desafiadores. Ao contrário, eu te apoiei, tentei incessantemente te salvar.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

"Morre menos quem morre longe"

Na sexta-feira vesti branco, não em sinal de Paz ou porque é dia de Osalá. Vesti branco por luto, por tua partida e para te desejar Paz. Sim. Meu luto é branco. No Candomblé o luto é branco. Ele tem dor e também tem “escuridão”, mas vestimos branco. E então visto branco para desejar a clareza, a paz, o equilíbrio que necessitarás para aceitar a partida, sabendo que o amor maior ficou e ficou ainda indefeso.

Pablo Neruda escreveu que “morre menos quem morre longe”. E assim o é. Só existe uma partida de fato quando há uma despedida. Não me despedi de você e não vou me despedir. Eu não te vi. Ficarão as lembranças. Quem passa por nossa vida deixa muito de si e leva muito de nós. Então, está decidido: você fica! Você sempre ficou.

Fomos amigas, cúmplices, tivemos momentos sensacionais e inesquecíveis e eu até tentei manter... Eu te amei e você me amou. Ah, mas você me fez raiva também, me decepcionou, me entristeceu, assim como devo ter feito com você também. A questão é que tuas qualidades sempre superaram os defeitos e eu encontrava meios de entender esta ou aquela atitude. Soube – através de você – de tanta coisa, de tanto segredo... que comigo estarão guardados.

Liberta do véu verás o quanto era e es importante e amada... Você morreu longe, então morreu menos pra mim.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

O meu lugar

Sentir o Sol, sentir a Chuva, sentir a Mata, sentir o Mar, sentir a Cachoeira... sentir o tilintar da Natureza ecoando na alma... de olhos fechados, sentidos aguçados, coração aberto, peito nu. Que saudade! Coisas que podem parecer tão pequenas diante da imensidão dos dias que seguiram, mas que enobrecem a alma, trazem frescor tão imenso quanto a dor que me causa a ausência. O meu lugar.

O meu lugar é assim. Ele é envolto dos mistérios e dos caprichos de uma Natureza Sagrada, onde ecoam a paz, a harmonia, a fé e o amor; é caminho sagrado onde se pisa descalço e quem vê, de fato, é o coração; não reside a maldade e não cabe a ingratidão; nele vivem os fortes de alma e os bons de coração. Não sei onde, como ou quando vou morrer, mas sei exatamente como desejo e anseio viver. E para estes dias estou me preparando.

Se nele não coube, se nele não cabe é porque meu lugar é muito pequeno para o tamanho da maldade, mas é imenso para quem tem boa intenção e bom coração.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Há tanto de mim em mim

“Há tanto de mim em mim. Há tanto dos que foram e dos que não foram. Há um devagar dos dias e um depressa dos anos me explicando sem explicar que mando nada no que penso. E, então, me afundo no fundo de mim e expando a atenção para compreender por que penso o que não teria precisão de pensar. Isso, quando me aborreço com distrações.

Sou do silêncio...”, Gabriel Chalita

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Este trecho de um artigo do professor e filósofo Gabriel Chalita me trouxe reflexões pertinentes. Guardamos tanto de nós mesmo e dos outros... não há como “cruzar” com alguém na vida e não aprender algo – ainda que seja exatamente aquilo que não queremos ser jamais. Não importa o tempo de estada. Sempre há quê aprender. E à minha mente vem a questão do aprendizado, onde somos pequenos diante do quanto precisamos aprender e o quanto somos imaturos diante de questões tolas.

De fato, os dias passam vagarosos e, quando nos damos conta, já se passou um ano e, não mandei em nada do que pensei. Mergulhei fundo no meu interior em busca de respostas para minhas próprias perguntas. E quantas destas perguntas não tinham nexo. Busquei entendimento onde não havia ou não precisava, bastava aceitar o fluxo da vida sem resistir. Me afundei no fundo de mim, na minha mais completa escuridão, para compreender o que não necessita compreensão.

E no fundo de mim mesma o ar é bem mais puro e de lá posso contemplar os dias passados e presentes e, então, percebo com mais clareza, não mais com os olhos do amor e da compaixão, mas com os olhos da realidade. O quão nos é revelador quando da retirada do véu que nos cobria os olhos. Me expando. Me espanto. Me alegro. Agradeço. E faço questão de manter em mim tanto de “quens” já passou. Não por admiração. Não mais. Mas para me lembrar daquilo que jamais quero ser.

E, então, me distraio com as belezas que encontro e gosto do tanto de mim que há em mim. Que venha setembro! Meu mês! Mês de flor! Mês de amor! Mês de verso e prosa! Mês que me deixa toda prosa! E me encho de inteirezas! Do tanto de mim que há em mim!

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Valentia e coragem

A beleza mora no simples. Muitas das vezes no mais simples da alma, ainda que sofrida e machucada. Mesmo em dias quentes se faz necessário cultivar a polidez e a sobriedade. Mesmo em tempestades é preciso enxergar a paciência e acalmar o espírito. Mesmo nos barulhos – de dentro e de fora – a voz do silêncio nos sussurra amor. Mesmo em meio ao caos a inteligência nos pede compreensão e indulgência.

Diante do Fogo aproveite o calor para aquecer o frio de fora e o de dentro, mas mantenha distância segura porque Fogo arde, queima. Diante do Ar respire fundo algumas vezes para oxigenar o corpo e a alma, mas respirar fundo demais tonteia e faz perder o sentido. Diante da Água molhe o corpo e sinta o fluir da limpeza, mas não por muito tempo porque encharca e apodrece. Diante da Terra fique descalço e sinta a energia da Grande Mãe entrando pelos pés, mas saiba por onde caminhar porque tem farpas e espinhos.

A vida ensina que tudo podemos, mas nem tudo nos convém; que não adianta buscar em um o que só se encontra em outro; que onde está escrito “puxe” não adianta empurrar; que o que é característica é só uma questão de tempo para aflorar; que caráter não se ganha ou se perde, a pessoa tem ou não; que felicidade e amor não adianta forjar; que o tempo é sábio e leva tempo para descobrir; que a verdade é única e a mentira não tem perna, rasteja na sordidez; que o perdão, a prece e a gratidão são irmãos inseparáveis; que coração é solo sagrado e só se deve pisar descalço; que se render ao sentir requer valentia e coragem; que aos covardes, só cabe a infelicidade de ser quem são. 

sábado, 19 de junho de 2021

Pessoas, essência, perfume...


Cada essência tem uma fragrância e cada fragrância um perfume... se mudarmos a essência, mudamos o produto final: o perfume. Fazendo uma analogia, pessoas são como perfumes. Cada uma tem sua essência e ela não muda – até porque se mudasse, deixaria de ser aquela pessoa e se tornaria outra. Assim como para fazer aquele determinado perfume é necessário usar aquela essência, uma pessoa só é ela de fato quando usar sua verdadeira essência. E essência não muda. Pessoas não mudam.

Pessoas, essência, perfume... são o que são. Quando se quer ficar mais cheiroso, aumentamos a quantidade de perfume; se quiser ficar menos, diminuímos a quantidade, mas a essência é a mesma. Não existe variação na essência. O que de fato existe é a variação na dosagem, local, forma. As pessoas podem mudar? Claro! Elas mudam de lugar, de roupa, de estilo... variam o modo, a quantidade, mas a essência é a mesma. Não importa que aconteça, com quem ou como estejam, elas sempre são sua essência com algumas variações apenas. E, para se mostrarem, é só um questão de tempo.

O desafio não está em mudar a essência. Essência não é mutável. O desafio está na dosagem. Perfume demais enjoa, de menos não se sente. Um mesmo perfume um dia traz prazer e, no outro, repulsa. O desafio está em fazer com que a sua essência faça com que lembranças boas venham a mente de alguém e faça a boca sorrir delicadamente quando sentirem teu perfume, ainda que em outro frasco...

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Querida alma humana

Toquei uma alma humana como se deve tocar uma alma humana. Toquei com o mais profundo carinho,
respeito, desejo, amor... toquei uma alma humana sendo uma alma humana. Completamente entregue e com a maior pureza de sentimentos e emoções.

Me deixei ser tocada e me entreguei a uma alma sofrida. Ofereci a esta alma meu mais profundo amor e cuidado, auxiliei em suas dores, incentivei, a fiz importante, a enxerguei, cuidei com zelo... mas ela era apenas uma alma sofrida.

Eu a vi com os olhos do mais profundo amor que me era capaz. Eu via hombridade, honestidade, caráter, sinceridade... tantas qualidades e, alguns defeitos, é claro. Mas nunca supus que aquela alma sofrida seria capaz de mentir, enganar, trair, machucar.. a alma humana que a tocou.

Ao tocar uma alma humana, seja uma alma humana, ofereça a esta alma e a trate exatamente como gostaria de ser tratada. Ferir uma alma é algo terrível e tem consequências difíceis para ambas as almas.

Querida alma sofrida, me perdoe se não a amei o suficiente para te curar, mas tenha a certeza que te amei com o que tinha de mais puro. E como disse algumas vezes e talvez você não tenha acreditado, eu te amo... até sempre. Na minha alma você só encontrará o AMOR. O amor não é um hábito. Ele habita. Eu te amo. Mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda te amo muito.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Quisera o Tempo me desse mais Tempo de Tempo ter


Quisera o Tempo me desse mais Tempo de Tempo ter

Quisera o Tempo me permitisse voltar com o ensinamento que o próprio Tempo me deu

Talvez eu fizesse meu Tempo diferente do Tempo que me fez

O Tempo é um senhor sério, que não gosta de mentiras e tampouco de maldade

Por isso que o Tempo traz verdades não importa quanto Tempo passe

O Tempo é pura bondade, mas não é bobo não

Se engana quem pensa que pode o Tempo enganar

O Tempo está atento e o Tempo vai passar

E o melhor do Tempo não é chegada, mas sim o caminhar

Porque quando o Tempo chega, é a hora do parar.

 

O Tempo, sem dúvida, é Tempo de Deus. 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Reencontrar a doçura, a delicadeza, o carinho... ser mulher

Na maior parte da minha vida tive dificuldades em ser menina, moça e mulher. Permiti que meu entorno ferisse a menina assustada e a transformasse num “menino levado”, que cresceu e não soube ser mulher. Para deixar a coisa ainda mais complicada, além de mãe, tive que me tornar pai dos meus filhos. E o lado masculino mais uma vez sobrepôs o feminino. Desiquilíbrio. Mas dentro de mim havia uma mulher que queria ser pura e simplesmente mulher, florir, permitir...

Foi criada sem referência paterna, por adultos e cercada de primOs. Para brincar tive que aprender a jogar pião, bola de gude, soltar pipa... e eu era boa. Meus cabelos encaracolados davam trabalho e era difícil de pentear – sou do tempo do creme rinse. Para dar menos trabalho, meu cabelo era curto. A carinha era de menino e, por ser muito levada, a maioria achava que eu era menino. Até meu nome confundia as pessoas.

Certa vez tomei um tombo e ralei o joelho. Então sentei e chorei abraçada ao meu joelho que estava sangrando. Um dos meus tios – eu morava com minha mãe na casa da minha avó materna e, na época, tinha três tios solteiros – um dos meus tios me repreendeu e disse: “Para de chorar! Menino não chora!”. E eu respondi: ”Mas tio, eu sou menina!”.

Aos poucos a menina delicada, que gostava de brincar de boneca, dançar, ouvir música, carinhosa... foi ficando bruta e cresceu achando que o certo era ser assim. Talvez me tornar bruta tenha sido uma forma que encontrei de me defender e não ser magoada, manter longe as pessoas. Uma forma de me defender até de mim mesma. Eu não sabia o que era ser feminina, mulher. Engraçado, mas um dos meus primos me chamava de Audrey Boy. Engraçado que até ele, em sua ingenuidade de menino, me achava “meio menino”.


E assim foi se formando o que durante muitos anos em minha vida eu “fui”. Eu vivi alguns anos com o pai dos meus dois filhos. Eu gostava bastante dele, mas não era amor. Não aprendi com ele a ser mulher. Como costumo dizer, eu era mais homem que ele. Depois dele me tornei ainda mais bruta. Não sei bem explicar. Ele me fez mal e só não foi pior porque através dele eu tive meus filhos. E, como me separei com o mais novo ainda muito pequeno – menos de três meses – tive que esquecer a mulher e ser apenas mãe, filha dos meus pais, trabalhadora e provedora.

Até que depois de um bom tempo – três anos depois da minha separação – e pela primeira vez na vida eu me apaixonei e amei de verdade. Nossa, que sensação mais gostosa! Eu nunca havia sentido tanto prazer em estar na companhia de alguém. Meu coração batia diferente. E eu conheci o homem que me fez me sentir mulher pela primeira vez. Como lidar com isso? Como lidar com uma situação que era pra mim um sonho inatingível e estava ali, diante de mim? Como ser mulher? Como deixar de ser uma pedra bruta se isso era tudo que eu sabia ser? Que desafio!

O amor era a contramão de mim em vários sentidos. A delicadeza no trato, nas pequenas coisas, o cuidado... isso era coisa nunca experimentada. Eu era como um animal selvagem ou uma onça braba, como eu era chamada. Mas ele tinha a capacidade de deixar a onça igual a uma gatinha. Mas ainda assim um animal selvagem que queria ser “domesticada”, mas não sabia como. Quando se é criado na selva, é difícil, muito difícil saber agir em outras circunstâncias...

E a gatinha “mansa” ou pedra quase lapidada não soube muito bem agir em várias circunstâncias... e o amansador de onça braba ou lapidador de pedra bruta se foi sem uma única palavra. Apenas foi e não voltou. Sem a mais remota dúvida, foi a dor mais dilacerante que já senti na minha vida até o dia de hoje. Levei tanto tempo para me sentir mulher para ser desta forma? Eita que não foi fácil administrar tanta dor e num período delicado – inclusive de saúde física.

Deixei de existir para o meu domador e deixei de existir até pra mim. O lado selvagem da onça a manteve “viva” a um custo alto, porque ela já não era mais tão selvagem. Não sabia mais existir na selva e não sabia existir domada. Muito da onça morreu. Tanto que ela deixou de saber quem era. A onça foi muito machucada, com feridas profundas, mas ela sobreviveu. E sobreviveu no amplo sentido da palavra.


Apesar das feridas profundas, que machucaram a alma, a onça descobriu o quanto é bonito não ser bicho quando, na verdade, se é mulher. Reencontrar a doçura, a delicadeza, o carinho... ser mulher foi a melhor coisa que já me aconteceu. Uma pedra lapidada não volta mais a ser pedra bruta. Uma onça domada não volta mais a ser selvagem. Uma mulher quando se descobre mulher, não volta a ser “homem”.

Eu (re)aprendi a ser mulher. Aprendi que ser forte, corajosa, manter uma casa sozinha, trabalhar fora, cuidar dos filhos, da casa, dos pais, dos amigos... não precisa deixar ninguém bruto. Eu posso cuidar e me permitir ser cuidada, posso amar e me permitir ser amada... e não tem nada de errado com isso. Ao domador, desejo do fundo da minha alma, o mesmo que eu desejo pra mim: que ele mereça a benção de ser tão ou mais amado que um dia ele foi.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Por que você ainda me ama?

Porque só eu te olho assim
Ah, existem vários motivos! Você estava invisível, inclusive pra você, e eu te enxerguei. Você sequer se lembrava de como era ser beijado com desejo. Não um desejo momentâneo, não com tesão, mas com amor. Eu dei cor a tua vida, dei colorido, dei brilho, dei valor, te fiz importante... e te dei problemas também, porque foi preciso enfrentar muita coisa de um lado e de outro.

Desde o primeiro dia você foi amado. Não foi só sexo, como costumam ser as primeiras vezes, havia algo a mais e que veio para ficar. “Se fosse só sexo, já seria bom demais”. Mas nunca foi só isso. Nunca foi o prazer do momento do corpo, sempre foi o contentamento da alma, até nos momentos mais difíceis e foram alguns.

Nunca ninguém havia vibrado tanto ao teu lado, em cada pequena vitória. Cada vitória tua foi transformada em grandiosa, até que você próprio a considerasse grande e sentisse orgulho. Meus olhos te viram grande desde o início, enxergaram além do corpo e alcançaram a alma.

Estive com você nos momentos mais difíceis e te dei apoio e te fiz lutar e não desistir. Mostrei o quanto era importante insistir, mesmo diante das negativas e dificuldades, porque isso faria diferença no futuro. E fez. E faz.

Você nunca foi tão bem cuidado e percebido e amado. Ninguém sequer percebe teu olhar, teu sorriso, tuas pintas, tuas costinhas... você é apenas o que pode oferecer momentaneamente, o socorro que precisam. Você não é “O”, você é “UM”, mais um que facilmente será substituído ou destituído. Não que você não tenha valor, muito pelo contrário, que não tem é o outro. Relações instituídas uma em cima da outra têm muito a revelar sobre si e sobre o outro...

Sim, você pensa em mim. Sim, você sente a minha falta. E, quando algo não dá certo, você se lembra de mim, e quando dá você sabe que eu vibraria muito com a tua alegria e a tua vitória. Não é a minha presença, foi com a minha falta que você não soube lidar.

E hoje, com todo o esforço que você faz, é tão efêmero, é tão passageiro que você precisa se esforçar o tempo todo para ter um pouco de valor, para tentar fazer parte e de tanto esforço fazer, vai acabar cansado porque não traz contentamento real. Envolvimento não é e não será comprometimento.

E você está doente. E como eu lamento por isso. A doença não veio do corpo, mas da alma que você deixou adoecer trilhando caminhos errados que não condizem mais com a tua evolução moral, com o que você prega, com a tua virtude que você tem deixado de lado. Como eu sei? Porque teu espirito veio me dizer. Você cometeu erros graves e se envolveu com pessoa errada que agora está te fazendo mal. E você? Você permitiu crendo que o problema veio de mim, quando na verdade não foi e não será. Tão intuitivo e tão inocente.

É triste ver tanto desespero, tanta dor, tanta pressa, tanto medo de ficar sozinho, de envelhecer sem ninguém... as escolhas de hoje refletirão no amanhã, sem dúvida. O que é construído em areia, em terreno que não foi bem sondado, tende a ruir, não importa o esforço que se faça. Quando compramos um apartamento no térreo, por mais obra que façamos, nunca será cobertura. A pressa é inimiga da perfeição e pode nos levar exatamente onde temíamos chegar.

Por que você ainda me ama? Nem você mesmo sabe e é exatamente isso que te dá tanto medo. Por que você foge e ainda assim pensa em mim? Porque você se esforça pra não lembrar que eu existo e, ainda assim, permeio teus pensamentos? Por que apesar do tempo estou sempre no teu pensamento? Por que o coração aperta quando pensa em mim?... Porque é o mais verdadeiro que você já sentiu e é isso que você busca, busca, busca... tenta, tenta, tenta... e não consegue. Porque está buscando e tentando no lugar errado. Por que você ainda me ama?